A cada dia se publicam centenas de livros pelo mundo. É um facto! O que já não é tão coerente é o mercado editorial português. Neste artigo, tenciono abordar alguns temas relacionados com as editoras nacionais e do conceito em torno de publicar um livro.
Muitos já pensaram em escrever um livro, mas e quanto a publicá-lo? Que editoras deves contactar? Como? É fácil? Estas são algumas questões que nem sempre são fáceis de responder.
Primeiro, há que desmistificar o mito das vendas loucas. Se pensarmos que, por norma, o escritor apenas recebe 10% da venda de um livro (designado direitos de autor) então o que acontece ao resto? Usemos o exemplo da Joana (quando digo Joana, digo alguém). Ela tem o livro à venda nas livrarias por 15€, recebendo, então, 1,50€ por cada exemplar vendido (os direitos de autor). O que é feito dos 13,50€ que sobram? Bem, numa edição normal, a editora recebe 35% da venda, 5,25€, neste caso, e a fatia maior vai para a livraria, 45% (6,75€). Se fizermos as contas, sobram ainda 1,50€. Alguma ideia de para quem são? As distribuidoras que reabastecem as livrarias. Recebem tanto como o autor.
Podemos pensar "A editora ainda recebe uma boa parte, porque não cede mais um pouco ao autor?". Na verdade, a própria editora não lucra muito, pois tem de pagar ao revisor, a quem fez a capa do livro, quem paginou, à gráfica que o imprimiu, à promoção do livro, aos livros oferecidos a blogues, revistas... Isto tudo, principalmente se for uma tiragem pequena (que falaremos mais à frente), torna pouco flexível as manobras editoriais.
Estive a dizer-te isto com que cabimento? A verdade é que eu sou maluco... Ou nem tanto. É importante entender que, com pouca margem para erros, as editoras não podem apostar em todos os livros com potencial que lhe são disponibilizados. Até porque muitos nem o tem e as grandes empresas editoriais preferem apostar em autores estrangeiros que já tenham mostrado sucesso no exterior do que num autor nacional pouco ou nada conhecido.
No entanto, isto não é razão para perder o ânimo, mas sim para caprichar na obra! Revê o teu manuscrito as vezes que forem necessárias antes de o enviares para as editoras. Se pensares que o teu livro tem algo que o diferencia dos restantes, algo que lhe dará brio quando comparado com semelhantes, seja o tema, as imagens, o título... Refere-o quando contactares à editora (mas nada de exageros! Será contraproducente dizer à editora que está perante o próximo Saramago). Um editor não é um monstro de três cabeças. É apenas um empreendedor a tentar adivinhar qual será a obra certa para apostar. O mercado é um tecido vivo, sempre sujeito à mudança do meio e ao interesse do público. Nós, como leitores, compomos esse tecido vivo.
Depois de concluíres a tua obra completa e de a reveres eximiamente bem, está na altura de escolher qual/quais editoras contactar. Atualmente, podes enviar a tua proposta por e-mail ou por correio físico. Hoje em dia já não é tão comum receber um manuscrito físico e, se imprimir uns quantos originais não afetar a tua situação económica, pode fazer a diferença entre ser lido com atenção... ou não (caso o envies por e-mail, em conjunto com tantos outros interessados).
Na escolha das editoras a contactar, certifica-te que elas publicam o tema do teu original. Por vezes, pode ser mais proveitoso contactar editoras mais jovens e regionais do que as grandes nacionais que, na sua maioria, só aceitam pessoas célebres ou estrangeiros. Enviar o teu original para 10 editoras é um número aceitável, principalmente se estiveres a tentar as grandes empresas.
Como contactar uma editora? Bem, talvez fosse mais prático se colocasse um modelo/exemplo de um e-mail correto e, a partir dele, podias adaptar ao teu objetivo. Infelizmente, tal modelo não existe. Os editores privilegiam contactos originais, apelativos e que captem a sua atenção, e tem em consideração que a sinopse e a carta de apresentação podem descartar a hipótese de o livro começar sequer a ser lido.
É provável, mesmo que o seu livro tenha uma enredo cativante, coerente e correto, que receba os tão temidos "Obrigado por nos ter apresentado o seu original. Lamentamos, mas...". Não quer dizer que não sejas bom escritor ou que a história não seja nada de especial, simplesmente que a obra não se enquadra no plano comercial da editora ou que esta nem teve interesse em lê-lo. A Saída de Emergência, por exemplo, sendo uma editora de fantasia, é escusado escreveres-lhe uma carta a apresentar o teu romance histórico (por exemplo).
Isto leva-nos à parte do "Sim". Nesta parte, é preciso ter alguns cuidados, nomeadamente se ainda não fizeste todo o teu trabalho de casa... No mundo editorial, há editoras profissionais com diversas chancelas (que não cobram a publicação da tua obra, como a Porto Editora). Todavia, também há as prestadoras de serviços que cobram pela edição do livro (a maior parte destas tem graves problemas em fazer o livro chegar às livrarias. Se estiveres a pesquisar editoras no google, salta aquelas páginas que dizem anúncio, porque essas empresas não costumam ser muito (nada) eficientes). Ainda temos as editoras mais pequenas, que são meio que engolidas pelas grandes que dominam o mercado. Sabias, por exemplo, que aquelas ilhas no meio das livrarias costuma ter um preço às editoras, por ter mais destaque?
Não é demais salientar que, sendo autor nacional e caso pretendas publicar a tua obra com uma editora jovem, é provável que não vás encontrar muitos exemplares teus na Fnac/Bertrand... Estas são empresas que não privilegiam os escritores portugueses e só se o pouco material aceite for vendido é que pedem mais. Caso contrário, devolvem-no. Não é para levar a peito, são apenas negócios.
Relativamente à parte da receção do(s) contrato(s), tem cuidado com os termos. Se ficares com dúvidas em relação a alguma cláusula, não hesites em contactar o editor para clarificar a situação. Se, mesmo assim, não te sentires seguro, contacta um advogado da área. É melhor prevenir do que remediar!
Artigo muito pertinente. Obrigada, foi muito útil!
ResponderEliminar