Num dia não muito distante, o jovem baixou a guarda e o fim entrou. Olhava o rapaz para o sereno dia frio e solarengo, quando algo pousou à janela. Um corvo resistente.
O menino, tantos dias só naquele pequeno amontoado de terra, de mãos abertas o recebe. O corvo, depois de dias a fio a esquivar-se de um mal silencioso, sem hesitar aceita o caloroso abraço do estranho. Daqui, se forma uma improvável e forte amizade, se bem que por pouco tempo...
O fim já os presenteou com a sua presença. Numa certa manhã, poucos dias passados desde o encontro, o corvo adoece e a criança, sem saber o que fazer, abraça-o com todas as suas forças. No final do dia, a alma solitária, repentinamente acolhida, volta para a sua solidão. O corvo pereceu.
Muito não faltou para o próprio rapaz seguir um destino semelhante. Um espirro, depois outro e outro até que, ao quarto espirro, as mãos mancham-se de vermelho. É ela. Ele percebeu. Sempre foi ela! Todavia, não foi o corvo que a trouxe... Não! A Praga foi o maior e o último erro da humanidade. Não foi o corvo que acabou com a sua vida, foi ele que sacrificou o corvo. Ele descobriu! A montanha cristalina guardou um segredo de todos, até mesmo dele. No pequeno riacho que docilmente a rodeia havia um segredo! A branca colina pertencia ao riacho, mas o riacho não pertencia à inocente colina. Não. O riacho já não era inocente, não era transparente. Ele já não passava dum bagageiro da Praga. Do fim.
Um último espirro, o rapaz cerra os olhos e liberta do abraço o corvo, inerte.
Para os curiosos e corajosos muita cautela! A Praga foi extinta das grandes metrópoles, mas ainda há quem diga que o maior mal da humanidade permanece no riacho da colina cristalina. Ansiando o recomeço.
Luís Telles do Amaral
Este conto é espetacular!
ResponderEliminarAdoro as histórias dentro da história, as múltiplas coincidências!
Muito bom!