Deparei-me há uns dias com Cesário Verde, um homem que pouco mais fez do que escrever o quotidiano, de forma poética e dispersa. Morreu novo, vítima da tuberculose (pandemia impiedosa de 1900), deixando uns meros 40 poemas como legado. Anos mais tarde, o seu melhor amigo juntou a maioria desses textos e publicou O Livro de Cesário Verde.
Sabendo a biografia de Cesário, pode tornar-se difícil decifrar como é que um só livro consegue imortalizá-lo, ainda para mais, como é que ele é considerado um mestre para Fernando Pessoa, um dos Reis da poesia portuguesa.
A verdade é que Cesário consegue retratar uma cidade decadente, uma milady frívola e cruel, mas tentadora e outros tantos miseráveis e afins duma forma simples, extremamente bela e acessível a qualquer um.
Depois,
- temos cheiros e paladares deliciosos, como «Um cheiro salutar e honesto ao pão no forno» e «Ó minha loura e doce como um bolo!»;
- Pormenores do passado: «Uma iluminação a azeite de purgueira, de noite, amarelava os prédios macilentos».
- Contextos históricos «E evoco, então, as crónicas navais: Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado! Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado! Singram soberbas naus que eu não verei jamais!»
Tem tantos pormenores e perspetivas que até pode soar a ofensa o que me limito a mostrar. O melhor é serem vocês mesmos a aventurarem-se pelos seus textos que, não sendo muitos, nem chegam a cansar ou a calar o desejo.
Sem comentários:
Enviar um comentário