Título: Annwn
Annwn é uma surpresa. Mais que um livro, é a prova de que a escrita fantástica vive em Portugal.
Se fores a uma das grandes cadeias livreiras, dificilmente encontrarás mundos fantásticos de gente portuguesa à venda. Ora, isto não significa que os críticos tenham razão quando dizem que os portugueses não conseguem produzir livros de fantasia. Simplesmente não estimamos os autores nacionais da área, pelo que são abandonados pelas grandes livrarias.
Annwn é o exemplo de um mundo fantástico original e coeso. O enredo saltita, ora no nosso mundo, ora em Annwn. Embora necessário, o começo não faz jus à obra, que à medida que desenvolve ganha personalidade e beleza ímpares. Os últimos capítulos são extremamente belos e dependentes do passado, efeito que nem sempre se consegue na produção literária. A escritora abordou os temas mais atuais, retratando um passado e personagens que permanecerão comigo.
Estou convicto que este título pode ser a faísca para mais. Existe uma diferença entre traduções literárias e obras escritas diretamente por um escritor português, e ela é visível na escrita de Annwn. Congratulo a Célia Maria, com a promessa de seguir os futuros projetos que possa vir a desenvolver com o seu estilo definido e primoroso.
Agradeço à Chiado Editora por me ter proposto esta leitura. É sem dúvida um dos seus melhores títulos.
Sinopse | ANNWN
Demoraram cerca de duas horas e meia a trocar o pano que cobria o Espelho e a encaminhá-lo para a descida, de modo a ficar fechado na cave. O objecto era terrivelmente pesado e não podiam chamar mais ninguém para ajudar. Trocar os panos também não foi tarefa fácil porque não podiam olhar para o Espelho, o que era tremendamente tentador. Quando o Espelho era tocado, a sua luz intensificava-se, tornando-se mais chamativa, como um convite irresistível. E nenhuma das mulheres podia prever quanto tempo se manteria assim, por isso, mesmo depois de todo o trabalho concluído, ainda era visível uma luz proveniente do alçapão de madeira, que teria de ser coberta por alguma coisa. Uma arca pesada para guardar roupas parecia o ideal. Estavam ambas exaustas quando tudo ficou pronto para o aposento ser ocupado com as camas.
Avaliamos — 4,50/5
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